Atividade recupera em fevereiro
O mês de fevereiro apresentou uma melhora frente aos últimos meses, com varejo e serviços apresentando avanços acima do esperado. Por outro lado, a indústria continua recuando. Mesmo com a melhor na margem, vemos um cenário de acomodação na atividade como um todo. Tanto serviços como varejo parecem apenas reverter à média, sem uma mudança na tendência recente e o qualitativo ainda é consistente como uma desaceleração fruto de uma menor demanda e de condições financeiras adversas. De todo modo, devemos ter um PIB no primeiro trimestre ainda robusto, com a recuperação parcial do varejo e dos serviços somada ao potencial bom desempenho da agricultura.

Indústria recua na margem
É o quinto mês consecutivo em que não há crescimento da produção. Em relação a fevereiro de 2024 a indústria apresentou uma alta de 1,5%, nona taxa positiva consecutiva nessa comparação, enquanto no acumulado dos últimos 12 meses a variação foi de 2,6%, mantendo tendência de desaceleração, que também é notada na média móvel trimestral, que alcançou -0,1% no trimestre móvel encerrado em fevereiro.

A queda foi disseminada em 14 das 25 atividades pesquisadas e duas das quatro grandes categorias econômicas. Entre as atividades, a influência negativa mais importante foi assinalada na produção de farmacêuticos, com recuo de -12,3%, que interrompeu dois meses consecutivos de expansão na produção. Outras contribuições negativas de destaque foram a produção de máquinas e equipamentos e a produção de veículos, que recuaram 2,7% e 0,7%, respectivamente. Na ponta contrária, o destaque foi o avanço das indústrias extrativas e dos produtos alimentícios, com altas de 2,7% e 1,7%.
Entre as grandes categorias econômicas, bens de consumo duráveis e bens de consumo semi e não duráveis mostraram os resultados negativos em fevereiro, com recuos de 3,2% e 0,8%, respectivamente. Por outro lado, os setores produtores de bens de capital e de bens intermediários avançaram no mês, com altas de 0,8% em cada uma dessas categorias.

O resultado de fevereiro reafirma a tendência de acomodação do crescimento, mas sem indicar uma desaceleração desordenada. Já são cinco meses consecutivos em que a produção industrial não avança. Desses cinco meses, em quatro observamos recuo na produção. Os dados sugerem que o aperto nas condições financeiras e o aumento da incerteza tem impactado o dinamismo do setor, com atividades mais dependentes de investimento e da demanda indicando maiores dificuldades nos últimos meses, enquanto os setores mais descolados do ciclo econômico mantêm robustez na sua produção.
Serviços surpreendem
Volume de serviços registrou alta de 0,8% em fevereiro, acima do esperado. Frente a fevereiro de 2024, a alta foi de 4,2%, décima primeira alta consecutiva nessa métrica. Entretanto, o setor mostra sinais de acomodação, com o crescimento acumulado nos últimos 12 meses estagnado em 2,8%.

O avanço no mês foi disseminado, com expansão em quatro das cinco atividades investigadas. Os destaques foram serviços de informação e comunicação e serviços profissionais, com alta de 1,8% e 1,1% respectivamente. O único setor com variação negativa foi o de transportes, com recuo na margem de 0,1%. Apesar do forte resultado, vemos que ele foi amplamente influenciado por fatores de oferta, que por sua vez estavam deprimidos nos últimos meses, com o resultado de fevereiro aparentando ser uma reversão à média, não caracterizando uma mudança de tendência.

Ainda vemos sinais de acomodação da atividade como um todo e do setor de serviços, em particular. Os serviços prestados às famílias avançaram apenas 0,5%, recuperando apenas uma parte da queda de 3,3% observada em janeiro. É a atividade mais sensível à demanda, o que sugere uma demanda ainda enfraquecida, o que se nota também nos transportes, com a principal influência de queda vindo do recuo no transporte de passageiros, mesmo com a alta de 2,9% nas atividades turísticas, mas esse avanço foi insuficiente para repor as perdas de janeiro, quando recuou 6,1%.
Varejo avança acima do esperado
Na comparação com fevereiro de 2024, o volume cresceu 1,5%, vigésima primeira taxa positiva nesta comparação. Entretanto, a tendência de desaceleração observada nos últimos meses persiste. O setor acumula alta de 3,6% nos últimos 12 meses, uma forte desaceleração frente aos 4,7% observados em janeiro. Por outro lado, o resultado de janeiro foi revisto de uma variação negativa de 0,1% para uma variação positiva de 0,2%. Assim, a média móvel trimestral variou 0,2% no trimestre encerrado em fevereiro.

O resultado foi fruto do recuo de 4 categorias, das 8 pesquisadas. No mês, o resultado foi puxado pela alta de 1,1% em supermercados e 0,9% em móveis e eletrodomésticos, com supermercados encerrando uma sequência de 3 meses consecutivos de recuos. Na ponta contrária, destacamos a queda de 7,8% em livros e papelaria e de 4,2% em materiais para escritório.

O varejo ampliado, que inclui veículos e material de construção, surpreendeu negativamente, com uma retração de 0,4%, com recuo de 2,6% nas vendas de veículos e peças, mantendo tendência de desaceleração nessa métrica, com a venda de veículos e peças recuando pela terceira vez nos últimos quatro meses, período no qual acumulou variação negativa de 3,4%.
Apesar do resultado positivo, o segundo mês consecutivo de avanço, vemos uma moderação no consumo, consistente com a desaceleração da atividade. O desempenho no mês foi quase todo devido à alta nas vendas em supermercados, um consumo essencial. A maior parte do consumo discricionário variou moderadamente ou apresentou recuo. O volume de vendas sensível ao crédito, por exemplo, recuou 1,3% em fevereiro, recuando em três dos últimos quatro meses, período em que acumula perda de 2,2%. Portanto, a tendência de desaceleração causada pelas piores condições financeiras se mantém, corroborando o cenário de acomodação do crescimento da economia.