Concessões avançam, mas cautela permanece
Os dados de crédito de fevereiro indicam desaceleração na demanda por crédito por parte das famílias, após o relatório de janeiro indicar uma leve queda no ritmo de concessões para as empresas. Observa-se queda no ritmo de concessão para todas as categorias de PF exceto no cheque especial, que teve leve alta na variação em 12 meses e continua resistindo a tendência de arrefecimento observada desde outubro. Ficamos atentos, porém, a um possível reaquecimento da linha de consignados com a medida do governo federal para liberar crédito desta modalidade para CLTs, que pode aparecer nos dados de março e mais substancialmente nos de abril. No lado das PJs, o cheque especial também desafia a tendência de concessões menos robustas em conjunto com as duplicatas e o capital de giro, enquanto a outra metade das categorias apresentaram variação menor em 12 meses. Na inadimplência, vemos aumento na margem para as categorias PF e PJ, com um qualitativo razoavelmente negativo para as famílias: percebemos outra alta atípica na inadimplência das PFs para o crédito pessoal não-consignado, que evidencia deterioração na condição financeira provavelmente oriunda dos juros maiores ao invés das piores condições de mercado de trabalho, visto que a inadimplência da linha de consignados segue benigna e as demais linhas, incluindo as de PJs, dentro do padrão usual.

Concessões avançam em fevereiro
As concessões de crédito avançaram 1,7% em fevereiro frente a janeiro com dado ajustado sazonalmente, e somaram R$575 bilhões, acumulando alta de 10,03% acima da inflação nos últimos 12 meses, continuando a desaceleração vista em janeiro. No mês, o resultado das concessões refletiu o recuo de 0,5% entre as PFs, e de avanço de 2,6% entre as PJs, ambas já ajustadas sazonalmente.

As concessões de crédito livre avançaram 0,5% no mês na série com ajuste sazonal, refletindo o avanço de 2,5% entre as PFs, enquanto as PJsrecuaram 0,6%. Nos últimos 12 meses, as concessões de crédito livre entre as PFsacumulam alta de 8,58% acima da inflação, enquanto as PJsacumulam alta de 13,46%. Entre as PFs destacamos a alta de 3,6% em 12 meses para o cheque especial. Na ponta negativa, destacamos o recuo na concessão para veículos, que segue com alta de 21,9% nos últimos 12 meses. Entre as PJs os destaques são os recuos de compror e antecipação de duplicatas, cuja variação em 12 meses agora se situa em -29,1% e 28%, respectivamente.
As concessões de crédito direcionado avançaram 9,4% em fevereiro, na série com ajuste sazonal, alcançando R$73,4 bilhões. Entre as PJs os destaques foram o recuo de 22,8% em 12 meses no crédito rural, contrastando com a melhora na linha de BNDES, que agora avança 19,2% em 12 meses. Entre as PFs, notamos estabilidade na concessão de imobiliário, enquanto o crédito rural continua deteriorando e já recua 14,6% nos últimos 12 meses.
Inadimplência avançou 0,1 ponto percentual, alcançando 3,3%, maior valor dos últimos 9 meses. O movimento foi reflexo do aumento de 0,1 p.p na inadimplência das PJs e de estabilidade dentre as PFs. Destacamos o avanço de 0,2 p.p na inadimplência do pessoal não-consignado para PFs, com o qualitativo indicando piora nas condições financeiras das famílias, em linha com o movimento observado no endividamento e no comprometimento na renda das famílias, que aumentaram, em janeiro, 0,85 p.p e 1,44 p.p, respectivamente.

Taxas de juros aumentaram 0,7 p.p. no mês, refletindo o aperto da política monetária. No mês, vimos avanço de 1 p.p na taxa do crédito livre e recuo de 0,8 p.p no crédito direcionado, com a taxa das PFs avançando 1,2 p.p. em contraste com a queda de 0,4 p.p. para as PJs. Entre as PFs, destacamos as altas para o cheque especial e o cartão de crédito, com avanços respectivos de 8,8 p.p. e 6,5 p.p., com apenas um leve recuo de 0,4 p.p. na modalidade veicular. Para as PJsainda observamos alta na maioria das modalidades de crédito livre, indicando que o recuo para o mês advém da redução de 1 p.p. nos juros do crédito imobiliário.
